quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Parque de diversões

Sempre gostei de parque de diversões. Mas confesso que fui pouquíssimas vezes quando criança. Papi e mami não tinham dindim suficiente pra levar os três filhotes. Então, me lembro de um passeio, um só.

Fomos de excursão. Parque Mutirama, Goiânia. Isso significa muita mãe correndo atrás de criança. O lugar era gigantesco, ao menos, assim era a percepção que eu tinha das imagens que me chegavam aos olhos. Brinquedos? Inúmeros. Alguns ainda desconhecidos na época. Sei que brinquei na xícara maluca, que me deixou bem tonta; no carrossel, com réplicas lindas de pôneis; e de montanha russa. Tinha outros, é claro. Mas não me lembro.

Nunca fui adepta a esportes e/ou atividades que requeiram alta descarga de adrenalina. Não gosto de passar medo. É isso. Gosto de segurança, o que não significa que eu me arrisque vez ou outra. Então por que a tonta aqui andou na montanha russa? Sei não. Curiosidade, talvez. Confesso que foi empolgante e divertido em alguns pontos, mas o contrário em outros.

Enfim, após brincar muito e comer muita coisa gostosa (algodão doce, pipoca, refrigerante e outras besteirinhas), voltamos pra casa. Exaustos. Satisfeitos. Teria sido perfeito se não fosse por meu balão de bichinho que me escapou das mãos. Ele, livre, aventurando-se pelo céu azul. Eu, triste, olhando ele ir embora.

Já adolescente e adulta, ganhando alguns trocados, fui a outros parques. É claro que outros brinquedos surgiram. É claro que não ouso a desafiar a lógica do bom senso e andar de carrossel de novo, mas confesso que AMMUUUUU brincar de carrinho de batida. Sim, uma muleca de quase 30 setembros, brincando de carrinho de batida. Feliz, que fique registrado.

Existem muitas metáforas pra vida: viagem (de trem), música, dança, livro... e sim, parque de diversões. Ficamos maravilhados com a chegada de um brinquedo novo, nova fase em nossa vida. E então o moço que controla o brinquedo pede que deixemos nossos pertences num cantinho, porque não podem entrar conosco no brinquedo. Pai e mãe ficam ali, felizes por nos ver tão alegres, mas apreensivos, pois são protetores. Nem sempre dá pra levar certos itens na bagagem. É quando temos que deixar pessoas e coisas para trás e/ou de lado para iniciar uma nova etapa em nossa jornada – “Uma dor que desatina sem doer”, já dizia Camões.

Vez ou outra, sinto-me perdida nesse parque de diversões. O brinquedo-mor, a saber a Sra. Dona Montanha Russa, encarrega-se de me transportar de um extremo a outro. E então, visito e revisito os ups e downs. Ainda bem que não é Roleta Russa, pois não me alegra o off.

Eu poderia ficar só de platéia e olhar os outros adquirindo seus “passaportes” na bilheteria e embarcando em cada brinquedo. Eu poderia rir dos gritos espalhafatosos, ou me preocupar com aqueles que se sentem mal. E seria só isso. Só papel de platéia. E a audiência iria se tornando cada vez mais singular, previsível, monótona. Uma mesmice que mata. Ou... poderia usar o meu bilhete de viagem e ir. Sei que risos e gritos iriam se duelar, numa tentativa de se sobrepor um ao outro. Não sou masorquista. Entenda. Mas o medo e a dor, tal qual a alegria e o prazer, garantem-me a sensação de estar viva. E acho que é o que me impulsiva a prosseguir.

São brinquedos que podemos encontrar em instancias diversas: família, trabalho, relacionamentos. Uns mais audaciosos que outros. Alguns brinquedos trazem uma alegria ímpar, por mais singulares que sejam. Outros quebram ou, simplesmente, deixam de funcionar. Há aqueles que são substituídos a despeito de alguns que são entregues ao esquecimento, pois não se fabrica mais. Espero que tenha ficado claro que o vocabulário aqui tem sido metaforicamente usado. Ambigüidades não seriam apropriadas neste momento.

As vezes queria ser só uma simples garotinha, imersa em seu algodão doce colorido, alheia às inúmeras tentativas de apitos do guarda do parque de captar minha atenção. E esse momento-casulo talvez me permitisse passar de uma fase a outra, sem muitos riscos e exposição, ainda que sofrível. Eu disse “às vezes”. Isso significa que não é pra sempre. Sempre é muito tempo, tempo demais até. Então, isso me permite desejar estar na montanha russa, lá em cima, ainda que com medo, mesmo que isso libere a não-desejada adrenalina.

Lembro de uma criança que cortou o pé no dia da excursão do parque. Sangrou muito. E ela berrou muito. A mãe solicitamente lavou o pé da criança, improvisou um curativo e minutos depois já estava ela a brincar novamente. Não chorou mais por causa do machucado. As vezes meu coração chora porque sente dor, e então externalizo com lágrimas. Se não fosse pelo sangue, pela dor, a criança travessa teria continuado as estripulias e seu pé teria ficado estraçalhado, certamente. E isso me faz pensar acerca da dor que sentimos no coração. É obvio que ela é o sinal dado para que paremos, revisemos onde estamos pisando, o que estamos fazendo para causar isso. E paramos ou pegamos outro rumo, mais seguro talvez, e prosseguimos até aonde a lucidez nos permitir.

Não se sabe o que é um parque de diversões até que todos os brinquedos sejam provados. O parque deixa de ser de diversão quando se vai sozinha a ele ou quando não há ninguém lá. Não se vive a vida até que todas as instâncias sejam intensamente vivenciadas, seus encantos e deslumbres sejam descobertos.

Desculpe. Tenho que ir, chegaram brinquedos novos no parque e quero conhecê-los. E a fila está grande.

Beijo com sabor de algodão doce.

2 comentários:

  1. E assim vamos vivendo e ganhando experiências, né Rejane? Eu adorei este texto, ficou sensacional! Desejo-lhe muita sorte, e que se divirta bastante nas montanhas-russas da vida... bjs!

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  2. Oi, Flávia! Obrigada pela visita.
    E pensar que o" parque de diversões" vai muito além de "montanhas-russas".
    Abraços.

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