segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Carta para uma amiga

Olá minha cara,

Algumas dezenas de dias se passaram desde que entramos de férias, no tão esperado julho! Da minha parte, posso confidenciar-lhe que foi um mês maravilhoso, o vivi tão intensamente como nunca o tinha feito outrora. Vivi com a alma, com todo o meu ser, e isso fez toda diferença. Posso dizer até que ele não foi curto nem extenso demais, foi o bastante.

Tenho muito a lhe falar, mas confesso que já não há mais tanto tempo disponível para fazê-lo. Assim, ater-me-ei àquilo que eu julgar mais relevante para o momento.

Primeiro, quero pedir-lhe perdão por minha ausência espiritual/social, embora meu corpo estivera presente em nosso ambiente de convívio. Percebi-me estranha e indiferente no local de trabalho, na igreja, na família... Senti minha alma deslocada, habitando num corpo quase estrangeiro, dada a não-sintonia entre eles por algum tempo. Enfim, após dias de demasiado conflito, a paz voltou a habitar em meu coração, ou talvez nunca o tivesse abandonado, apenas se espreitado, dando lugar a uma tsunâmica (des)organização em minha vida, tão confusa, tão necessária.

Terminei, felizmente, a leitura de Perdas & Ganhos (Lya Luft). Diria também infelizmente. Sim, sentimentos paradoxais despertados por uma leitura que fiz, na verdade, não desse livro, mas de mim mesma, do meu interior, do meu ser. Um livro consideravelmente pequeno, todavia capaz de provocar em mim um hibridismo revelador. Ler-me foi ora estranheza, ora deslumbramento. Eu era um livro fechado e, ao abri-lo, pude ouvir o murmurar de uma alma tão desconhecida por mim mesma, um universo que eu não desbravei antes porque a expedição pra dentro de mim talvez sempre me atemorizasse.

“Ah, então você deve ter lido esse livro em um dia, no máximo dois” – você, amiga, me indagaria. Minha resposta? Não. Eu o li em trinta dias! A leitura foi sobremaneira densa que foi preciso me delongar em suas páginas para saborear o paladar ali escondido. Tive ímpetos, não poucos, de cerrá-lo e não continuar a leitura, pois vi, diversas vezes, a estrutura da minha alma sendo destruída, feridas sendo abertas e vi-me nua, sem máscaras, sem dissimulações. Mas não poderia perder-me em mim. Chega de ter medo. Era preciso estudar-me, mesmo sendo meu interior um território desconhecido, ainda.

Eu poderia citar aqui inúmeros fragmentos com quais me identifiquei por inteiro. Mas, atenho-me a dois:

“A vida não está aí apenas para ser suportada ou vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada” (p. 155). Entendi que não preciso suportar-me, suportar o meu passado, parte do qual você conhece, não preciso suportar as minhas dores. Eu posso elaborar-me, reprogramar-me, reprogramar os meus conceitos.

E, por último, “... por mais que os escritores escrevam, os músicos componham e cantem, os pintores e escultores joguem com formas, cores e luzes -, por mais que o contexto paralelo da arte expresse o profundo contraditório sentimento humano, embora dance à nossa frente e nos convoque até o último fio de lucidez, o essencial não tem nome nem forma: é descoberta e assombro, glória ou danação de cada um” (p. 156). Percebi que o essencial, para mim, é viver segundo a vontade de Deus, o amado da minha alma que dissipa todo e qualquer medo, que escreve o enredo de minha estória com caneta de ouro. Há conceitos, alguns milenares, elaborados pela sociedade os quais eu não preciso aderir, mas tão somente reelaborar, e a vida será certamente melhor. Simples assim.

Obrigada, amiga, por compartilhar comigo uma leitura tão fabulosa.

Um saudoso e terno abraço,

Rejane Maria Gonçalves

6 comentários:

  1. Wow!! Esse post comeu todas as minhas palavras. Nada a dizer, a não ser levantar, aplaudir e gritar: LINDO!

    Um beijo carinhoso.

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  2. Também gostei muito desse livro. É sempre bom entrarmos em contato com o nosso Ser.

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  3. Oi, estou passando pra conhecer seu blog, e desejar boa noite
    bjsss

    aguardo sua visita :)

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  4. Nossa...
    Não há o que falar mais.
    Lindas as suas palavras.

    Vim aqui pra dizer que tem selo pra ti lá no "Cuidado por Deus". Fique a vontade para não postar.

    Abraço!

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  5. oi...quando li te confesso com sinceridade a qual vc comhece que chorei por lembrar de certas coisas...mas sei que vc soube supera-las.Sei que ainda existe em vc uma ,menininha guardada ,que ama ,sofre,luta e aprende que a vida e constituida de novos desafios onde devemos supera-los para alcançar aquilo de tao precioso que temos
    Sei que tbm existe em vc uma semente em seu coraçao chamada felicidade que aos poucos vc vai redescobrindo e tomando conta de si por inteiro somente pelo fato de nossa alma esta em paz nao falo somente pela paz espiritual mas aquela que vem de dentro de vc e que possa compartilhar-la com os demais para construimos aquilo que hoje falta a milhoes de pessoas :o amor a si e aos outros


    bjos camilla

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  6. Oi Rejane.
    Vc tá suminda, menina.
    Sentindo falta dos seus posts. =D

    Um beijão.

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