sexta-feira, 22 de maio de 2009

Espelho, espelho meu: quem há por trás desse ‘eu’?


No conto de fadas “Branca de Neve”, a madrasta da protagonista, vez ou outra, recorria ao seu espelho para perguntar se havia alguém em todo o universo que fosse mais bela do que ela. O seu humor estava condicionado à resposta que seu ‘servo’ lhe desse. Ela se sentia bem quando a resposta era negativa, mas chegou o dia em que ela se enfureceu ao ouvir do seu espelho um ‘sim’ referindo-se à Branca de Neve, a enteada, como sendo a mais bela mulher existente cuja imagem agora era ali refletida. Não quero aqui fazer o papel de nenhuma dessas personagens. Mas extraio da estória o espelho e lhe dou vida própria para falar hoje.

Já escutei muitas coisas a respeito da minha personalidade, mas uma que tem me intrigado, talvez até intimidado, é aquela que afirma haver alguém atrás dessa máscara que eu insisto usar. Como assim? Eu não uso máscara nenhuma. Eu sou essa pessoa sempre transparente, sempre acessível. “Não, você não é. Usa uma máscara e se esconde atrás dela”. Ouvir isso significou ser colocada a frente de um espelho num movimento tão brusco, parecido com aqueles projetados no filme Matrix. E é justamente sobre esse ‘estar na frente do espelho’ que quero falar.

Como me sinto na frente desse espelho? Ora, ora, sinceramente... Tiraram a então máscara de mim e, nua que me sinto, estou toda desconcertada. Não há nada para desviar a atenção, não há nada para olhar, só há eu, em frente ao espelho. Estou com medo sim, apesar de tantas vezes ter afirmado categoricamente que não. Sim, amigo, estou com medo. Não sei se de você que examina detalhadamente até o meu respirar ou de mim mesma, de desvelar a Rejane que verdadeiramente sou. Eu não sei o que fazer porque, ao tirar a minha máscara, você tirou o meu controle. E acho que é por isso que estou com medo.

Ali, me olhando no espelho, ainda reluto para me esconder, esconder coisas das quais sinto vergonha ou até talvez nem conheça. Mas, não tem como. Todas as tentativas são fracassadas e não há outra coisa a fazer a não ser deixar refletir no espelho a pessoa que sou.

- Então, Rejane, o que você vê primeiro? – Pergunta o Sr. Espelho.

- Eu vejo meus olhos que, janelas da alma que são, mostram um ser assustado, introvertido, com medo de tudo e de todos. Olhos que já viram tantas coisas desagradáveis, a despeito das maravilhosas, olhos que já se alegraram e já se afundaram em lágrimas.

- Mas falta uma coisa ainda, Rejane.

- Eu não sei, acho que é só isso.

- Não, não é só isso não. Você se esqueceu de mencionar que seus olhos se fecharam quando você decidiu não ver o que era preciso.

- Mas ver o quê?

- Ver a verdade, ver e reconhecer a sua impotência diante de situações que estão alheias à sua vontade, ao seu controle. Rejane, ao fechar os olhos, você se ilude criando um mundo onde só existem as coisas (boas) que você quer ver e que pode controlar.

Minhas palavras silenciaram. Não sei o que responder.

Depois dos olhos, percorro a imagem ali refletida e, novamente sobressaltada por mais uma indagação do Sr. Espelho, observo-o.

- E agora, Rejane, o que você vê?

- Meu coração. E por que ele está assim, descoberto, parece tão indefeso? Eu nunca vi o meu coração assim. Será que estou morrendo? Veja, veja como ele bate. Deus, por que meu coração está assim?

- Ora, Rejane, isto é apenas o pulsar do seu coração, o seu órgão mais precioso. Você o tem imposto cargas além do que ele pode suportar. Ele encerra toda a sua força humana, mas também toda a sua fragilidade. Que alimento você tem oferecido a ele? Veneno. Você o tem alimentado com o pior dos venenos.

- Veneno?? Não, eu jamais faria isso. É óbvio que eu cuido bem dele, ele é o meu coração, não é? Então, eu faço tudo para cuidar bem ele e jamais faria o contrário.

- Veneno sim, um veneno chamado medo que lhe impede de prosseguir a despeito de todos os esforços que seu coração faz, de todos os gritos que lhe explodem silenciosamente em sua artéria.

Chega, eu não quero mais olhar nessa imagem nem conversar com esse espelho idiota que insiste em me falar coisas que não fazem sentido, que eu não quero ouvir. Pra mim, chega.

Está fugindo de si mesma, não é?

Agora eu vi. Esse Sr. Espelho está ouvindo até meus pensamentos. Ah, isso não. Pode parar. Já cansei dessa brincadeira.

Não, Rejane, não há como parar. É preciso que você olhe sua imagem refletida no espelho, é preciso que você se conheça porque só assim poderá prosseguir.

Ver os meus olhos ali, tão atemorizados, ver o meu coração tão frágil não era o que eu esperava. Talvez a máscara que eu sustentava me impedia de vê-los e de ouvir o murmurar de uma alma tão desconhecida por mim mesma, um universo que eu não desbravei porque a expedição pra dentro de mim talvez sempre me atemorizasse.

Eita. E agora? O que eu faço? Quem há por trás desse ‘eu’ refletido nesse espelho? Sr. Espelho, então me diga, o que eu faço agora? Sr. Espelho, responda-me: O que eu faço agora? Ei, fale.
Olho para o espelho e ele permanece inerte como sempre esteve. Mas e a voz que eu estava ouvindo? De onde vinha? Será que eu estava falando sozinha? Ah, não. Era só o que me faltava falar sozinha. Mas eu estava conversando com o Sr. Espelho. Com o espelho? Mas o espelho não tem boca, como pode falar? Mas... mas é que... não sei. Observo detalhadamente o espelho e percebo que a única coisa que se move nele é a minha própria imagem. Mas... e a voz? É. Eu acho que falei sozinha por um bom tempo. Ou talvez era a voz do meu inconsciente.

Não sei. Não sei que imagem é essa que eu vejo, se de uma madrasta má, de uma Branca de Neve, de um Dorian Gray ou de outrem. Olhando para o espelho, mais uma vez, vejo um corpo nu, uma alma nua, que se revelam ali, talvez numa tentativa de chamar-me a atenção para algo que eu ainda não havia percebido: o universo que há em mim, ainda tão desconhecido.

Num misto de coragem e covardia, quero quebrar esse espelho... ver seus pedaços no chão. Sentir-me-ia bem fazendo isso? E os cacos, será que poderiam ainda refletir alguma coisa?
E aí eu penso: Quantas pessoas que, assim como eu, também têm usado máscaras? Quantas pessoas lançam pedras no espelho com a intenção de quebrá-lo?

Pedra lançada. Meu meio sorriso reduz-se a nenhum ao perceber, espalhados no chão, os incontáveis pedacinhos da outrora pedra. No espelho permanece, intocavelmente, a minha imagem refletida.

6 comentários:

  1. Nooosa.meu blog aqui!Amanhã leio seu texto

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  2. Texto muito lindo e sincero o seu.Essa é a covardia de todos nós quebrar o espelho.Mas cedo ou mais tarde encontramos outro e a verdade aparece nos encarando de novo.Essa verdade somos nós.

    *Claro Rejane que pode me acompanhar.Vou deletar os blogs dessa conta.Me encontre no wordpress,tá?
    http://protestedeclareamor.wordpress.com/
    De um blog você acessa o outro pelo menu.beijinho!

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  3. Ola Rejane!
    Nosssssssssssssa li algumas coisas no seu Blog, adoreiiiiiiiiiiii de paixão, vc escreve divinamente bem. Parabéns

    aguardo uma visita sua a minha página tb

    http://pcsouzabv.blog.uol.com.br/

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  4. E assim a gente se reinventa ^^

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  5. Belo trabalho este seu eu estou te seguindo e gostaria que você vinheste nos visitar e escolher um de nossos blogger obrigado

    Não de ouvidos as convercinhas de quem não tem o que faser

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  6. É verdade, Monique. Nós somos a própria verdade que nos espreita.

    Flávia, "reiventar". Essa é a nossa melhor descrição.

    Jefferson, obrigada pelo comentário.

    Bjs a todos vocês!!!

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