sexta-feira, 22 de maio de 2009

Coração humano: terreno estéril...?



Ontem meu avô completou 89 anos. É o único avô vivo que tenho hoje, os outros já se foram. Após lhe dar um abraço e desejar “feliz aniversário”, eu pedi para tirar uma foto (adoro fotos!!) e depois conversamos um pouquinho. Momentos assim são raros.
Enquanto o meu avô falava sobre o passado eu fiquei olhando para ele numa tentativa de compreender suas palavras. Fiquei imaginando quantas coisas aqueles olhos azuis, tão azuis (ah, como eu queria ter herdado esse colorido!!!), já viram por esse mundão. Ele falava e falava e, em certo momento, ele comparou a terra, melhor dizendo, o solo de hoje com o de outrora. Meu avô disse que antes a terra era forte e produzia muito, mas que hoje, para produzir, precisa de adubo e de 'remédio' e, que mesmo assim, a sua produção nem se compara com a que era capaz no passado. Até aí tudo bem. Eu estava ouvindo essa história como tantas vezes já o fiz.
Comecei a pensar: meus vinte e tantos anos me parecem tanto tempo, já vivi tanta coisa, acho que já sofri tanto, mas aí, eu olho pro meu avô com seus 89 anos... Pra quem nasceu em 1920, viveu os amargos anos da Segunda Guerra e o medo imposto pela Ditadura Militar, e está aqui até hoje ... essa pessoa sim é exemplo de força, perseverança e vitalidade.
Nem sei em que momento me perdi naquela conversa. Uma coisa me veio à mente: O coração humano está como essa terra. As pessoas de antigamente, como diz o meu avô, tinham mais tempo umas para as outras, visitavam mais, conversavam mais, eram mais próximas, mais solidárias, mais humanas, os corações eram mais férteis. E hoje? Hoje é “cada um no seu quadrado”, odeio a música da qual esse trecho faz parte, assim como odeio seu ritmo ridículo. Mas, tenho que confessar que esse trecho fala muito e nos remete ao individualismo no qual temos vivido. É só isso? Não. Tem mais. Hoje, as pessoas são escravas do relógio. São? Não. Somos. Tenho que admitir que estou inclusa nesse grupo. Sou também escrava do tic-tac que me faz correr de um lado para o outro, tentando cumprir uma agenda horrorosamente abarrotada. Faço parte de uma geração que não tem tempo pra visitar família, que dirá familiares e amigos. Meus irmãos moram na mesma cidade que eu e passo meses sem ir a suas casas, e quando vou, é interessada em resolver alguma coisa, pedir um favor, ou algo do tipo. Conversar? Ihhhhhh, minhas conversas são sempre rápidas e com algum objetivo prático. Seja no celular, seja pessoalmente, minhas conversas são rápidas porque não tenho tempo.
Voltando um pouquinho a história da terra, no preparo das lavouras, é preciso encher o solo de calcário, adubo e tantos agrotóxicos, para receber uma semente que já é morta. Morta? Sim. Morta. Hoje, as chamadas sementes para plantio são geneticamente modificadas. Ao ser lançadas ao solo, elas vão apenas brotar, crescer e dar, forçadamente, os frutos que esperamos. Mas, frutos que já nascem mortos porque suas sementes são 'programadas' para serem estéreis.
Meu Deus! Será que o meu coração é assim? Será que pra “dar algum fruto” meu coração precisa de 'remédios' tão fortes, verdadeiros venenos? Será que os frutos que meu coração tem dado (se é que o tem feito) são tão artificiais assim? O que as pessoas têm plantado em seus corações? Que sementes são essas que temos lançado nesse terreno? Que amor - em todas as suas modalidades - é esse que as pessoas afirmam ter dentro de si, todavia, é capaz de enganar, de mentir, de trair? Será que estão (ou estou) me programando para ser esse tipo de ser humano? E onde estaria o HUMANO nessa história?
Depois desse devaneio que me transportou pra não sei onde e por não sei quanto tempo, voltei a mim. Foi quando olhei e compreendi quão precioso e raro é ver que meu avô com seus 89 anos ainda estava ali, próximo do fogão a lenha, a falar de outra história (e nem me dei conta do fim da primeira), de suas experiências e da época em que ele, juntamente com outros homens, tinham que deixar suas casas, mulheres e filhos pequenos e se esconder no mato porque os "tropeiros", liderados por Prestes, poderiam passar a qualquer momento para recrutar homens para uma tal revolução (e eu que pensei que isso nunca pudesse acontecer 'por essas bandas de cá' rsrsrs...).

2 comentários:

  1. Re...
    Parabéns pelo interessante relato, aos 89 anos de sabedoria do seu avó. A cada conversa com essas pessoas, são momentos certamente de aquisição de mais cultura, de conhecimento e de algo para nossa vida toda. Quanto as sementes que devem brotar do nosso coração, são as do amor. Semeia sempre Rejane Amor, e no seu peito nascerá nada mais que Amor; e lembire - se sempre que depois das tempestades, vem a bonança para todos nós. Se seu coração, hoje não está dando os frutos que vc gostaria, não se culpe. Não culpe o mundo. Lembre - se sempre que tudo que passamos na vida é apenas aprendizado e nada é eterno, nada é em vão.

    Abraços (...)

    http://pcsouzabv.blog.uol.com.br/

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  2. Oi Paulinho,

    obrigada pela visita. Boa reflexão a sua.

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